125 anos de abolição da escravatura no país
No ano de 1888 era assinada a “Lei Áurea”
pela Princesa Isabel, pondo fim à vergonha da escravidão negra no
Brasil. Mas, após 125 anos da abolição da escravatura, o Brasil ainda
está longe de ser uma nação livre de desigualdades raciais. Mesmo assim,
uma análise dos indicadores econômicos e sociais dos últimos 20 anos
revela que o país tem avançado.
Uma pesquisa do IBGE mostra que a
proporção de brasileiros que se autodeclaram pretos ou pardos no ensino
superior dobrou em dez anos, saltando de 19% para 38%.
Nesta data, no ano de 1888, era assinada a “Lei Áurea” pela Princesa Isabel, pondo fim à vergonha da escravidão negra no Brasil.Aumenta o número de universitários negros
Como resultado, cresceu o percentual de
negros em quase todas as carreiras universitárias. Ao mesmo tempo, a
distância que separa brancos de não brancos no país em termos de renda
per capita também diminuiu.
Uma das principais razões para o aumento
de negros no ensino superior está na expansão do setor, que de 1995 a
2011 viu o número de estudantes quadruplicar, especialmente na rede
privada, que concentra 80% das matrículas. Uma simples análise dos
Censos Demográficos de 2000 a 2010 mostra que o percentual de
recém-formados pretos e pardos já chega a 41%, próximo dos 51%
registrados no total da população. Em Medicina, porém, são só 17%,
apesar de ter havido aumento de profissionais negros.
A antropóloga Maria Aparecida de Freitas
afirma que a queda da desigualdade racial no acesso à educação teria
sido resultado de um processo vindo nas últimas duas décadas. No
entanto, a desigualdade só será de fato combatida com a melhoria da
educação básica na rede pública. Com esse investimento na base, haveria
menos violência, menos crise de mão de obra e menos desigualdade.
Segundo a pesquisadora e antropóloga,
está havendo uma mudança de perspectiva: há dez anos, pouca gente da
classe trabalhadora almejava o ensino superior. Este é um processo de
melhora que tem ocorrido nos últimos 20 anos, com a estabilização
econômica e a melhora da qualidade de vida das pessoas e do próprio
sistema educacional no período.
A maior presença de negros no ensino
superior e a diminuição da desigualdade racial em termos de renda se
correlacionam também com a expansão da nova classe média (cuja renda
média per capita varia entre R$ 291 e R$ 1.109), que se beneficiou da
valorização do salário mínimo, do crescimento da economia e de programas
sociais focalizados nos mais pobres. Como resultado, em 2001, de acordo
com um estudo realizado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República, 31% da população preta e parda estava na
classe média. Dez anos depois, já são 51%.
Desigualdade persiste
Mesmo dentro deste segmento, no entanto,
ainda há desigualdades, como revela um estudo do Laboratório de
Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações
Raciais (Laeser), da UFRJ. Nos estratos que estão entre os 10% mais
pobres dessa nova classe média, o percentual de pretos e pardos é de
62%. No outro extremo, dos 10% mais ricos, o percentual cai para 39%.
Apesar dos melhores níveis de
escolaridade e renda da população preta nas últimas décadas, a presença
de pretos entre ocupações de menor renda persiste. Outro estudo do
Laeser revela que, enquanto 20% das pretas e pardas são domésticas,
entre brancas, o percentual é de 12%. Pretas e pardas ganham menos nesse
serviço, em média, do que as brancas. Claramente marcado pela herança
escravista brasileira, só em 2013 o trabalho doméstico passou a dar
direito a horas extras e FGTS, garantidos a outros trabalhadores.
Mesmo com os avanços, o trabalho escravo
ainda persiste, principalmente no Norte-Nordeste do país, de onde
pessoas são iludidas e levadas para trabalhar longe da sua terra, onde
já chegam com dívidas que o salário precário não consegue pagar,
endividam-se ainda mais para comer. Alguns apanham. São os escravos
contemporâneos. E 81% deles são “não brancos”, aponta pesquisa
encomendada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e realizada
por um grupo de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Segundo o estudo, que entrevistou
trabalhadores em condições análogas à escravidão, resgatados por
operações de fiscalização do Ministério do Trabalho e do Ministério
Público do Trabalho (MPT), um quinto dos resgatados é da cor preta, e
62%, pardos. Em 2012, 2.560 trabalhadores foram encontrados nessa
situação no Brasil.
Discurso do senador Roberto Requião
Discurso do senador Roberto Requião em relação aos 125 anos da abolição da escravatura.
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